Cadence seria uma adolescente comum, que gosta de livros, de
esporte e de passar as férias com os primos, não fosse por um detalhe, um
estigma que ela carrega desde o nascimento: o sobrenome Sinclair. E os Sinclair
têm uma integridade moral e até física a zelar. Eles são ricos, austeros,
fortes, bonitos, altos e loiros.
Cadence é a protagonista do romance “Mentirosos”, da americana
E. Lockhart. Ela é a neta mais velha de Harris, o patriarca da família Sinclair
e dono da luxuosa ilha Beechwood, onde, todo verão, ele reúne suas três filhas
para partilharem férias regadas a muita pompa e sofisticação. É nesse cenário
paradisíaco que Cadence divide momentos inesquecíveis com seus primos Merrien e
Johnny e seu amigo Gat. Juntos, eles formam o grupo denominado pelos parentes
como “os mentirosos”. Gat é o único membro não-oficial que frequenta o refúgio
sagrado do clã e é por ele que Cadence se apaixona perdidamente.
Os anos correm bem até o verão em que Cadence tem quinze
anos (ou o “verão dos quinze”, como ela define). É durante esse ano que a
garota sofre uma fatalidade, um acidente do qual ela herda uma amnésia seletiva
e terríveis episódios de enxaqueca. Mas as consequências vão além disso. Depois
do ocorrido, ela perde completamente o contato com seus companheiros e, dois
anos após, quando retorna à ilha, descobre que mudanças ocorreram tanto na
estrutura física do lugar quanto no comportamento de sua parentela. Todos
evitam desesperadamente comentar sobre o que aconteceu. Cadence então vai à
busca de respostas para recobrar sua memória e entender o que realmente lhe ocorreu
no verão dos quinze.
Com sua escrita poética, repleta de metáforas e jogos de
palavras, Lockhart constrói um suspense moderno e sofisticado, um mistério que
deixa o leitor ávido por explicações, fazendo-o devorar páginas e mais páginas
por horas a fio sem sequer perceber. Além disso, o texto provoca uma reflexão
sobre valores da sociedade e as relações familiares, como ambição, preconceito
e desejo de poder. Os Sinclair representam bem a hipocrisia social, a
necessidade de construir uma imagem apresentável às outras pessoas, mesmo que todos
os bens caríssimos e a alta estima nas rodas sociais escondam uma alma obscura
e depressiva. E é uma experiência deliciosa descobrir os segredos escondidos
sob os tapetes das opulentas mansões de Beechwood.
Quanto ao episódio infortuno sofrido por Cadence, o leitor
consegue criar teorias das mais variadas para, no final, boquiabrir-se com a
inesperada revelação (a menos que você tenha um nível de QI maior que o meu e
consiga desvendar tudo antes do fim). No
desfecho, tudo se encaixa, e você descobre que as peças do quebra-cabeça
estavam todas ali, foram lhe apresentadas aos poucos no decorrer dos capítulos.
É simplesmente fantástico.
Por fim, “Mentirosos” é um ótimo entretenimento para
preencher o ócio de seus dias de férias, seja no conforto do seu quarto, na
fazenda de seus avós ou na varanda de uma mansão com vista para a praia em sua
ilha particular. Isso se você for um Sinclair, claro.
Resenha por: Pedro Júnior
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